Nessa consulta informativa objetiva-se documentar o impacto ambiental ocorrido no ecossistema do trecho superior do Alto Rio Paranaíba em função das alterações das vazões no habitat dos peixes (baixo volume de água), associado a degradação da qualidade das águas com a redução dos teores de oxigênio dissolvido na água e contaminação por substancias tóxicas.
No aspecto quantitativo tomou-se como base o estudo desenvolvido no âmbito do programa HIDROTEC intitulado “Mapeamento de cursos de água com baixa capacidade de regularização natural”, publicado na International Conference of Agricultural Engineering – Foz do Iguaçu - 08/2008. Nesse estudo foram identificados na parte inicial do rio, trecho superior do Alto Paranaíba, entre os municípios de Rio Paranaíba e Patos de Minas e à jusante de Patos de Minas, índices de vazões mínimas classificados como de baixa a média capacidade de regularização natural, variando de 10 a 14% da vazão media de longo período. Informações mais detalhadas sobre esses fatores estão apresentadas na opção “Consulta informativa” dessa região hidrográfica: a) Rios com baixa capacidade de regularização natural e b) Índice de vazões mínimas.
Vale destacar que na região hidrográfica do Alto Rio Paranaíba predomina: a) sistema aquífero localizado em rochas xistosas cujo comportamento hidrológico apresenta médias contribuições específicas e variação intra-anual intensa com cheias e estiagens prolongadas, b) pluviosidade anual entre 1.000 a 1.500 mm e c) terrenos com baixa capacidade de infiltração (solo argiloso associado a substrato rochoso de baixa permeabilidade).
No aspecto qualitativo tomou-se como referência: a) Relatório da Qualidade das Águas Superficiais do Estado de Minas Gerais em 2003, publicado pelo IGAM, e b) Informações locais. As informações contidas no referido relatório mostram que a qualidade das águas no trecho superior do Alto Paranaíba variou de média a ruim ao longo dos anos de 1997 a 2003, em decorrência de fatores como lançamento de esgotos domésticos e efluentes industriais sem tratamento, suinocultura, atividade minerária e carga difusa. Na Figura 1 estão apresentados os resultados da qualidade da água da bacia do rio Paranaíba (território mineiro), em 2003.
As informações locais foram obtidas em entrevista realizada com o ambientalista Sr. Wilson José da Silva, membro fundador da Fundação SOS Paranaíba e consultor ambiental da Associação dos Municípios da Microrregião do Alto Paranaíba (AMAPAR). Segundo o entrevistado durante a segunda expedição técnico-científica realizada no rio Paranaíba, no ano de 2000, foram encontrados peixes mortos, das espécies surubim e Jaú (Figuras 2 e 3), provavelmente devido ao baixo volume de água (áreas de intensa explotação de água na bacia, principalmente para irrigação) e poluição por esgoto urbano e metais tóxicos. Ainda, segundo o Sr. Wilson, no ano de 2003 ocorreu um período de estiagem prolongada quando a profundidade do rio chegou a níveis muito baixo cerca de 10 cm, em alguns trechos próximo a sede municipal de Patos de Minas.
Figura 1 - Resultados da qualidade de água da bacia do rio Paranaíba (território mineiro), em 2003 Fonte: IGAM, 2004. |
Figura 2 - Surubim de 1,74m e 84kg |
Figura 3 - Jaú de 92kg |
Figuras 2 e 3 - Fotos dos peixes das espécies surubim e jaú encontrados mortos durante a
2ª expedição técnico-científica realizada no rio Paranaíba no ano de 2000. Fonte: Wilson José da Silva (membro fundador da Fundação SOS Paranaíba e consultor ambiental da Associação dos Municípios da Microrregião do Alto Paranaíba - AMAPAR). |
Vale, também, citar nessa Consulta informativa dois processos relevantes de degradação ambiental ocorridos no Alto rio Paranaíba no ano de 2003 em decorrência da estrutura inadequada dos sistemas de infra-estrutura da cidade de Patos de Minas (sistema de esgotamento sanitário e drenagem pluvial) e da utilização das áreas próximas da sua margem para agricultura e pecuária.
O primeiro foi a presença de lixo e animais mortos descartados ao longo de suas margens e do seu curso pelas populações ribeirinhas da sede municipal e da zona rural, provocando a poluição das águas e problemas ambientais do ponto de vista estético (Figura 4).
O segundo processo de degradação ambiental foi conseqüência dos lançamentos de resíduos líquidos, sem tratamento, do matadouro municipal da cidade de Patos de Minas contribuindo, assim, para poluição/contaminação das águas do rio Paranaíba (Figura 5). Este empreendimento processava grande quantidade de matéria orgânica e o seu lançamento nas águas do rio provocava aumento de DBO e conseqüente redução nos níveis de oxigênio dissolvido. Em maio de 2003, este teve suas portas fechadas pela própria administração municipal que alegou impossibilidade de cumprimento das normas sanitárias e ambientais vigentes no prazo dado pelo Ministério Público (GONTIJO, 2006).
Figura 4 - Bovino morto jogado no rio Paranaíba. |
Figura 5 - Contaminação das águas do rio Paranaíba pelos resíduos do matadouro municipal. |
Fonte: GONTIJO, 2006. |
Vídeo sobre impacto ambiental no trecho superior do Alto Paranaíba. Fonte: Wilson José da Silva |
É necessário que poder público e sociedade atentem para a problemática da degradação ambiental na bacia deste importante recurso hídrico e juntos criem mecanismos e soluções para que a curto prazo se diminua os efeitos das ações antrópicas sobre ela e a médio e longo prazos eliminem as causas de tais efeitos e revitalizem toda a bacia.
Já anunciada pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas, a construção de uma estação de tratamento dos esgotos é de suma importância para a melhoria da qualidade das águas do rio, mas é necessário que se melhore a qualidade das águas à montante da cidade já que o trecho também possui, segundo o IGAM, qualidade variável entre média e ruim em decorrência do lançamento de esgotos, efluentes industriais, dentre outros.
Há também a preocupante questão da contaminação das águas por substâncias tóxicas, dentre elas os metais pesados, que devem ter atenção especial para identificação das principais fontes de contaminação com ações de controle para minimizar o problema além de estudos mais detalhados para averiguação da extensão da contaminação (solo, sedimentos do rio e fauna aquática).
Um trabalho de recuperação de suas matas ciliares é imprescindível para redução do número de erosões em suas margens e da quantidade de materiais carreados para seu leito em períodos chuvosos evitando que a qualidade de suas águas deteriore neste períodos e que o volume de suas águas continuem a diminuir como vem acontecendo ao longo das últimas décadas.
EUCLYDES, H. P. et al. In: Water-courses mapping with low natural regularization capacity. International Conference of Agricultural Engineering, XXXVII Brasilian Congress of Agricultural Engineering and the International Livestock Environment Symposium, 2008, Foz do Iguaçú-PR. CD-ROM XXXVII Brasilian Congress of Agricultural Engineering and the International Livestock Environment Symposium.Foz do Iguaçu-PR:2008.
GONTIJO, F. D. A degradação da qualidade das águas do rio Paranaíba provocada pela emissão de esgotos da sede municipal de Patos de Minas. Patos de Minas, MG: UFSC, 2006. 72 f. Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Gestão Ambiental.
INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS – IGAM. Qualidade das águas superficiais do estado de Minas Gerais em 2003: relatório: monitoramento das águas superficiais na bacia do rio Paranaíba em 2003. Belo Horizonte: Instituto Mineiro de Gestão das Águas, 2003. 177 p. Disponível em: <http://www.igam.mg.gov.br/aguas/htmls/downloads.htm>. Acesso em: 12 out. 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PATOS DE MINAS. A cidade: apresentação. Disponível em: <http://www.patosdeminas.mg.gov.br/acidade>. Acesso em: 30 de nov. 2008.