Busca-se com essa consulta informativa fornecer um panorama dos conflitos pelo uso da água existentes na bacia do rio Paracatu. A importância dessa bacia se deve ao fato de ser o Paracatu o maior afluente do São Francisco, contribuindo com cerca de 40% da vazão do São Francisco no ponto de intersecção desses dois rios.
Atualmente, a região oeste da bacia do Paracatu apresenta índices de desenvolvimento e densidade demográfica mais elevados que a região leste (o que acaba por acarretar maior pressão sobre os recursos hídricos), sendo esses índices decorrentes do fato de a região oeste apresentar condições climáticas e de fertilidade do solo e, consequentemente, maior ocupação da área pela agricultura irrigada. A metade oriental da bacia é caracterizada por uma ocupação menos intensiva, por um índice de desenvolvimento menor e por uma menor pressão sobre o uso dos recursos hídricos, uma vez que os solos são mais pobres. As sub-bacias de maior conflito na bacia do Paracatu são as dos rios Preto, São Pedro e ribeirão Entre-ribeiros.
O processo de ocupação da bacia foi intensificado a partir da década de 1970, com a adoção de políticas governamentais como o PLANOROESTE, que objetivou implantar na região uma infra-estrutura de transporte e energia elétrica, incentivando o desenvolvimento econômico e demográfico. Houve também, entre as décadas de 1960 e 1970, um processo de colonização privada através da Companhia de Promoção Agrícola (CAMPO), que se utilizou do cooperativismo para a implantação de grades projetos de colonização, destacando-se, nesses projetos, a participação de agricultores originários de outras regiões do país, o que introduziu na área produtiva uma mentalidade empreendedora e moderna (BRASIL, 1996). Dentre os programas agrícolas desenvolvidos, pode ser citado como um dos principais e de maior porte o Programa de Colonização do Paracatu-Entre Ribeiros PCPER, cujas captações principais são realizadas no ribeirão Entre-ribeiros (Figuras 1 e 2).
Em função do grande números de usuários de água na bacia do referido ribeirão, principalmente com a finalidade de irrigação, foram observados momentos em que a vazão em sua foz chegou a zero nos meses secos dos anos de 2001 e 2002, com falhas para os últimos usuários da bacia (CASTRO, et al., 2004). ANA (2005) em estudo que apresenta relação entre a demanda e a disponibilidade hídrica de diversas bacias do país, classificou a situação dessa bacia como “preocupante”.
Objetivando minimizar os conflitos de água, principalmente na bacia do Entre-ribeiros, o IGAM vem realizando vários estudos e dentre estes cita-se o processo coletivo de outorga, no qual as outorgas emitidas estão sendo revistas.
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Figura 1 – Projeto de Colonização Entreribeiro I: A- Estação de captação de água; B- Sistema de irrigaçãopivô central. |
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Figura 2 – Imagem de satélite - pivôs centrais - confluência do rio preto e ribeirão Entre-ribeiro com o rio Paracatu Fonte: HIDROTEC (rota: Atlas Digital → bacia Paracatu → Consulta espacial → Imagens de satélite). |
Segundo Atlas (2007) a disponibilidade hídrica per capita na bacia do rio Paracatu é de 60.627 m3/hab.ano o que caracteriza uma situação considerada rica tendo por base a classificação adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para traçar o quadro mundial (http://www.atlasdasaguas.ufv.br/paracatu/disponibilidade_per_capita.html).
O principal uso da água na bacia do rio Paracatu é a irrigação, que ocupa uma área de 37.150 ha e cuja vazão consumida representa 86,6% do total demandado na bacia, seguida pelos abastecimentos animal com 10,7%, urbano com 1,5%, e rural com 1,2% (RODRIGUES et al., 2006).
O sistema de irrigação predominante é o pivô central (88%), sendo que em 42% da área sob esse sistema de irrigação (13.730 ha) já ocorrem limitações para o uso da água (BRASIL, 1996).
Exemplo de ação antrópica (captação de água para irrigação) comprometendo a vazão mínima pode ser vista na imagem de satélite apresentada na Figura 3. Nessa figura observa-se uma bateria de pivôs cetrais localizados à montante do ícone da estação fluviométrica de Porto da Estrema (identificada como seção fluvial de baixa capacidade de regularização natural ( r7,10 ≤ 10% Qmlp), conforme estudos desenvolvido no âmbito do programa HIDROTEC: Mapeamento dos cursos de águas com baixa capacidade de regularização natural. Vale destacar que na bacia do rio Paracatu foram identificadas oito seções fluviais com baixa capacidade de regularização natural.
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Figura 3 – Bateria de pivôs centrais localizados à montante da estação de Porto da Estrema, no rio Paracatu (e da cidade de Brasilândia de Minas). Fonte: HIDROTEC (rota: Atlas Digital → Bacia Paracatu → Consulta espacial → Imagens de satélite → Camada → Seções fluviais com baixa capacidade de regularização natural). |
No Estado de Minas Gerais, há grandes áreas referentes a projetos agrícolas desenvolvidos por empresas privadas ou pelo próprio governo. Na maior parte destas, com condições de uso da água já bastante críticas, inexiste um trabalho de coordenação e cooperação que leve ao seu uso eqüitativo, gerando conflitos e disputas entre diversos usuários. Essas disputas, além de afetar as relações entre usuários de um mesmo setor, impactam de sobremaneira o meio ambiente com a superexplotação dos recursos hídricos e das terras férteis.
Estas áreas precisam de intensas atividades de planejamento e gestão de seus recursos hídricos. Principalmente nestas bacias, faz-se necessária a consolidação do sistema de gerenciamento de recursos hídricos, com o funcionamento efetivo dos órgãos gestores e com a implantação dos instrumentos técnicos, econômicos, estratégicos e institucionais da Política e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
ATLAS digital das águas de Minas ; uma ferramenta para o planejamento e gestão dos recursos hídricos. Coordenação técnica, direção e roteirização Humberto Paulo Euclydes. 2. ed. Belo Horizonte : RURALMINAS ; Viçosa, MG : UFV , 2007 . 1 CD-ROM. ISBN 85-7601-082-8. Acompanha manual.
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Disponibilidades e demandas de recursos hídricos no Brasil. Brasília: Agência Nacional das Águas; Ministério do Meio Ambiente, 2005. 123 p. Disponível em: http://www.ana.gov.br/pnrh_novo/Tela-Apresentação.html. Acesso em: 20 fev. 2009.
BRASIL – Governo Federal. MINAS GERAIS; Governo do Estado. DISTRITO FEDERAL. Plano diretor de recursos hídricos da bacia do rio Paracatu – PLANPAR. [S.I.]: 1996. v. 1, T. 1. (CD-ROM).
CASTRO, L. M. A.; DINIZ, M.G.M.; SILVA, A.G. In: Aplicação do instrumento da outorga no gerenciamento dos recursos hídricos em Minas Gerais: A Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros.
VII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, 2004, São Luis-MA. CD-ROM VII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste. São Luis-MA:2004.
RODRIGUES, R. del G. et al. Vazões consumidas pela irrigação e pelos abastecimentos animal e humano (urbano e rural) na bacia do Paracatu no período de 1970 a 1996. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 11, n.3, p.223, jul/set 2006.
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Fonte: EUCLYDES et al. (2009n)